quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PERSONAGENS - A violência e as voltas que a vida dá

Por Amaranthus



Dezessete anos e poucos dias atrás (2/10/1992), de sua casa, o então governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho autorizava o que talvez seja o maior massacre da história recente do País. Ele dava ordem para o então coronel da Polícia Militar Ubiratan Guimarães invadir a Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) e encerrar uma rebelião que se iniciara horas antes no nono pavilhão do presídio, tido como o de presos de menor periculosidade.




O que ocorreu naquele dia já é amplamente sabido. Uma chacina sem precedentes ceifou a vida de 111 (oficialmente) presos, que não eram santos, mas também não precisavam ser executados da maneira como foram por uma polícia com cacoetes da ditadura militar. Nenhum dos policiais foi sequer ferido, pois segundo consta nos laudos não houve confronto direto. Apenas matança aleatória de pessoas.



Anos depois, em 2001, o coronel Ubiratan foi condenado em primeira instância a 632 anos de prisão. Logicamente, ele não foi preso por conta da lentidão, leniência e corporativismo do nosso judiciário. No ano seguinte, comemorou sua eleição para deputado estadual por São Paulo. Não sei se conquistou votos com santinhos que diziam: “fui eu mesmo que acabei com aquele bando de vagabundos”. Mal sabia que talvez fosse melhor ter aceitado sua pena e cumprido alguns anos em presídios destinados a ex-policiais. Cinco anos depois ele foi assassinado em seu apartamento nos Jardins, num crime que até hoje permanece sem solução, apesar de os indícios apontarem para sua então namorada.



Do massacre, muitos daqueles que conhecem o dia-a-dia carcerário, surgiu a idéia entre os presos de que deveriam ser mais fortes e ter mais respeito. Era o embrião para o Primeiro Comando da Capital (PCC), que não pára de crescer, apesar de as autoridades dizerem o inverso.



Mas o mais intrigante como fato recente: dezessete anos depois, o próprio então governador, depois deputado federal e com alguns processos nas costas por desvios de verbas públicas, sofreria dor semelhante aos dos parentes daqueles presos. A cultura da violência, que permeou sua família de direita e a favor da ditadura, fez dele uma vítima e não mais agressor.

Dias atrás, no interior de São Paulo. Aparentemente, por conta de uma discussão sobre uma batida de carro, seu irmão mais novo, Paulo Fernando Coelho Fleury, perdeu a cabeça, atirou e matou o próprio filho. Ainda em choque por conta do feito, tirou a própria vida, tudo diante dos olhos de sua esposa, mãe do inconsequente menino de 20 anos que tinha....batido o carro.



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